Será que você está realmente habilitado?

Com tantos carros diferentes, talvez somente a CNH não seja suficiente  -  Por Pedro Ivo Faro
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Imagine a situação: um cara com seus 18 anos acaba de passar na autoescola. Lá, certamente, só dirigiu carros populares 1.0 (se muito, 1.4), e agora vai andar pelas ruas e estradas do Brasil, habilitado. Mas será que está realmente preparado?

Pode parecer uma redundância falar isso, mas nosso mercado automotivo não era como há uns 10 ou 15 anos. Hoje temos um quase sem-fim de modelos para escolher. E somando-se a isso, as fábricas colocam condições de financiamento cada vez mais amplas, facilitando a compra de carros mais caros, maiores e/ou potentes. Para o consumidor, isso é um prato cheio, pois não falta carro pra se escolher. O problema é que quem tirou a carteira agora na certa não terá desenvoltura para dirigir tantos veículos assim.

Não estou aqui para subestimar a capacidade de quem acabou de tirar a CNH, mas para comprovar um fato: a habilitação - mesmo a temporária - não credita tanto assim o motorista. O cara sai da autoescola acostumado a dirigir carros com motores 1.0 que nem chegam a 80 cavalos, e mal chegam aos 4 metros de comprimento.

A experiência vem com o tempo ao volante? Lógico que sim! Mas há carros que muito dificilmente um motorista novato consiga dirigir com facilidade. Ou vai dizer que uma Hilux 3.0 cabine dupla é tão fácil de dirigir quanto um Gol 1.0? Nem só pela diferença muito grande de motorização, mas principalmente pelas dimensões dos veículos, são quase dois mundos diferentes. E antes que muitos venham dizer que motoristas recém-habilitados jamais teriam condições financeiras para dirigir veículos grandes, isso hoje em dia é mais comum do que se parece.

Pior que a falta de habilidade para dirigir determinados modelos é a possibilidade de pegar estradas tão logo se está com a habilitação. Dirigir na cidade e na estrada são experiências completamente diferentes, e para se andar nas estradas, o motorista deve conhecer bem o veículo que está dirigindo. Coisa que, novamente, alguém que acabou de tirar a carteira de motorista não tem muita noção. Afinal, na autoescola não ensinam a calcular ultrapassagens numa estrada, ou muito menos as “manhas” de se dirigir nelas.

Além dos novatos
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E mesmo os motoristas que já têm carteira não estão isentos desses tipos de problemas. Novamente apelando para o passado, de 15 anos pra cá o brasileiro passou a ter um poder aquisitivo melhor, e nisso logicamente se inserem os automóveis. Pela ascensão da classe C, e (novamente) pelas condições de compra e financiamento dos veículos atuais, hoje é possível se ter veículos muito mais potentes e equipados que outrora. E provas temos, muitas.

Peguemos como exemplo o ano de 2001. Para o motorista ter um BMW M3 (à época na geração E46), desembolsava 209 mil reais. Esse dinheiro, convertendo os valores, hoje chega perto (ou passa) dos 300 mil reais. Naquela época o M3 era um esportivo com seus 343 cavalos, e isso era muita potência, mas num valor inacessível para grande parte da população. Aí hoje, por exemplo, temos um Volvo S60 T6, que, zero km está saindo por pouco mais de 170 mil reais. Melhor que isso: de acordo com a tabela da FIPE um Camaro SS (com 406 cv, mais que uma Ferrari 360 Modena!!) sai por R$ 185 mil. Comparando com dez anos atrás, carros desse tipo estão muito mais baratos. E se a escolha for por um usado, não tem problema. Um BMW M3 E36 ano 1998 sai por pouco mais de 60 mil reais, e um Audi TT 2.0 Quattro, com 225 cv, custa perto de 90 mil reais. Até mesmo Hyundai Azera e Ford Fusion V6 não deixam de ter uma performance interessante por menos de 100 mil reais, mesmo estes dois não sendo esportivos de fato. E novamente repito, essas cifras citadas aqui hoje não são tão exorbitantes assim. Talvez até você, amigo leitor, tenha bala para comprar um desse hoje em dia.
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Se por um lado carros realmente esportivos estão cada vez mais acessíveis, surge outro problema: quem tende a comprar um desses carros cada vez menos teve uma “experiência anterior”. Explico melhor: muitos que hoje têm a chance de comprar um Camaro ou um S60 T6 nunca dirigiram carros tão potentes antes. Isso talvez explique porque um dos assuntos mais recorrentes em fóruns sobre automóveis internet afora é a quantidade tão grande de Camaros acidentados que vemos Brasil afora...

É bem verdade que a tecnologia contribui em prol da segurança. Com siglas e sistemas que mais parecem uma sopa de letrinhas – ABS, BAS, EDB, ASR, pre-safe, BLIS e por aí vai – os motoristas hoje estão mais seguros, é fato. Mas isso não exclui o risco de acidentes por falta de experiência ao volante de carros mais potentes. E nisso reside a pergunta: quais soluções podem haver?
Muscle car vem cultivando fãs há cinco gerações
A primeira poderia ser uma divisão mais criteriosa das categorias da CNH. Hoje, entre as categorias B e C temos somente o critério do transporte de carga e do peso bruto total de 3.500 kg. Uma boa alternativa seria dividir por outras categorias ou subdividir uma categoria já existente (algo como B2, B3, C2, C3...). Dessa maneira haveria uma melhor especialização dos condutores em veículos mais pesados e compridos que são relativamente “grandes” para a categoria B, mas, pelas medidas do Detran, “pequenos” para a C.

E quanto aos esportivos e carros mais potentes? Uma boa saída seria fazer o que algumas montadoras já fazem, como no caso da Porsche, da Ferrari e da BMW, que oferecem cursos de direção defensiva, bem como técnicas de direção para domar melhor carros com tanta cavalaria. Seria uma boa as montadoras oferecerem esses cursos para quem compra um esportivo (leia-se um Camaro ou até mesmo um “modesto” Civic Si). Seria uma boa estratégia de marketing, além de um bom treinamento e qualificação para quem nunca dirigiu carros com tanta força.

Por fim, percebe-se que há saídas e alternativas, que podem (na verdade talvez devem) ser pensadas e analisadas. Afinal, acidentes acontecem, mas nós podemos para-los. Ou ao menos reduzi-los.Chevrolet lança o Camaro no Brasil

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